Vai e volta, a gente conhece alguma comunidade eclesial que tem o hábito de separar as crianças na hora da missa e levá-las para um lugar à parte, onde são cuidadas por voluntários que cantam, rezam, brincam, evangelizando-as.
Enquanto isso, “seus pais participam sossegados da missa”, dizem os adeptos desta prática.
Não temos a menor dúvida de que a intenção dos voluntários é boa e de que a paróquia que tem este hábito se preocupa com o bem-estar dos seus membros. Mas o que preocupa mesmo é outra coisa: a consciência de que missa não é coisa para criança e o fato de pensar que elas atrapalham.
Certamente a missa é para todos, inclusive para crianças. Exatamente porque ela trabalha com o símbolo, o rito, a música, consegue atingir todas as idades.
Fosse ela uma aula, certamente teríamos que separar os participantes rigorosamente por idades, pois cada idade tem um processo cognitivo próprio.
Mas a liturgia tem a linguagem do coração, não do intelecto – ou, pelo menos, deveria ter!
É mistério de Cristo que é celebrado e o mistério a gente não decifra, nem explica; a gente acolhe.
E as crianças também, a seu modo é claro, estão aptas ao mistério de Cristo. O amor de Deus celebrado na Eucaristia toca-lhes também o coração, fala também à sua consciência infantil.
Privar as crianças da celebração é privá-las da oportunidade de serem alfabetizadas no mundo litúrgico, impedindo-as de pouco a pouco experimentarem o delicioso sabor da presença de Deus na comunidade eclesial.
Além do mais, o conceito que sustenta esta prática é que as crianças atrapalham. Meu Deus! Criança não atrapalha; criança alegra e enfeita o ambiente.
A espontaneidade e o vigor delas dão colorido à liturgia. Eliminá-las da celebração é matar a vitalidade da comunidade eclesial; é arrancar da celebração sua expressão da vida.
Uma missa sem crianças é um ambiente artificial, como uma missa sem jovens, sem velhos ou doentes.
Enquanto a Igreja na Europa lamenta o envelhecimento de suas celebrações pois lhe sobrou somente adultos e velhos nos templos, nós – que deveríamos nos alegrar com a presença das crianças em nossos meios – artificializamos o clima celebrativo separando as crianças de nós. Vai entender! Confesso: a intenção é boa, mas a prática não é salutar.
Melhor repensar este hábito eclesial que vem se firmando em nossas paróquias. O lugar das crianças é também na missa.
Por Solange do Carmo